A arte andarilha de Paulo Nazareth
Paulo Nazareth é um artista mineiro, reconhecido internacionalmente, cujo trabalho em vídeo, fotografia, desenhos, diários e objetos colecionados, incorpora gestos simples, ligados à imigração, ao racismo e ao colonialismo. A força do seu fazer artístico está, no entanto, no cultivo e na construção de relacionamentos com indivíduos que cruzam o seu caminho, especialmente aqueles colocados à margem devido ao seu status legal ou reprimidos pelas autoridades governamentais, combinando vivências, trocas e contradições, de um modo que, a nosso ver, revela as crescentes restrições de mobilidade impostas por fronteiras econômicas, sociopolíticas no século XXI, indicando as questões que envolvem raça, ideologia e distribuição desigual do desenvolvimento.
O corpo está presente em todo o trabalho de Paulo Nazareth, por meio de leituras iconográficas paradoxalmente iconoclastas acerca dos objetos, lugares e discursos, que traça narrativas protagonizadas pelos corpos físicos, do artista e de quem mais cruzar seu caminho/sua caminhada: “a caminhada permite o contato com a rua, os prédios, a arquitetura, os objetos a serem encontrados. Minha mãe fazia a gente andar para não ficar menino bobo”. Seu método é o do andarilho, tendo percorrido longas distâncias mundo afora, da aldeia de Caiová a Nova York, de Miami a Mumbai, e alhures: “’dar a volta na cozinha, em ruelas dos bairros… todos os dias há uma possibilidade de caminho. Mesmo sendo o de ontem, hoje já é outro, surgiu algo novo. Seja na arquitetura, na pintura, seja o mato que cresceu ou uma árvore cortada, são viagens intermináveis. O mundo pode ser o próprio bairro”. E tem outro tipo de trajeto: pelo sonho: “esse próprio repousar o corpo, a cabeça, os olhos e viajar no tempo e no espaço. A viagem sempre continua”.
Seu trabalho foi apresentado no Brasil e fora dele, em várias mostras; conquistou prêmios e integra coleções de arte importantes, como Boros Collection (Berlim), Thyssen-Bornemisza Art (Viena), Pinault Collection (Paris), Coleção Banco Itaú (São Paulo), Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro), Pinacoteca (São Paulo) e Rubbel Family Collection (Miami).