SHORT STORY [1]
Graciela Brodsky*
Por que sessões curtas? Ou sessões o mais curtas possível, para formular o tema com um enunciado modal que retomo de uma Conversação sobre os princípios da prática lacaniana, ocorrida em Madrid, em janeiro de 2003. Gostei muito porque o mais curtas possível implica, de um lado, sessões muito curtas e, do outro, que serão curtas na medida do possível, pois, conforme o caso, podem não sê-lo.
Para alguns, as sessões curtas distinguem a prática lacaniana de outras maneiras de praticar a psicanálise. Isso não é o correto. O padrão com que se mede a extensão da IPA dizia há pouco em Buenos Aires que praticava sessões curtas de aproximadamente trinta minutos. Para os não lacanianos, isso era pouquíssimo, para os lacanianos, uma eternidade.
Alguém propôs chamar as sessões lacanianas de sessões breves, e não curtas, porque curto e longo são medidas espaciais, ao passo que breve alude diretamente ao componente temporal. Nesse caso, seria melhor chama-las rápidas porque uma sessão curta pode ser lenta, e outra mais longa, estar animada pela pressa. Com rápido, acrescentam-se à dimensão temporal o movimento e, mais precisamente, o ritmo. Não é má ideia porque se quisermos fazer um esforço de poesia, como propôs Jacques Alain Miller, podemos recordar que é ritmo, e não a metrificação, que faz o tempo entrar na poesia.
Rapidez. Agrada-me pensar assim o componente que caracteriza a sessão lacaniana. Interrogado sobre os valores da literatura que deveriam ser preservados para o novo milênio, Italo Calvino recomendou rapidez.
Estou convencido de que escrever prosa não deveria ser diferente de escrever poesia; em ambos os casos, busca-se uma expressão necessária, única, densa, concisa, memorável. Gostaria de preparar uma coleção de contos de uma única frase ou, se possível, de uma só linha. Até agora, não encontrei nenhum que superasse o do escritor guatemalteco Augusto Monterroso: “Quando despertou, o dinossauro ainda estava ali”.
Curta, o mais rápido possível, breve, rápida, de duração variável. De um modo ou de outro, algo no emprego do tempo fez arder Tróia, desencadeou, há quase cinquenta anos, uma guerra no movimento psicanalítico, evocada pelo belo título destas Jornadas.
Para entender essa guerra, todavia, é preciso saber o que a desencadeou. Não foram os cinquentas minutos, nem os quarenta e cinco, nem a meia hora, nem os dez minutos.
Abramos os arquivos, retornaremos às fontes, sejamos “objetivos”.
Dezenove de maio de 1963, informe Turquet, questão Lacan: “Não se pode predizer a duração das sessões. Os resultados das análises são muito variados: difíceis de predizer ou de generalizar”.
A questão, portanto, não é a duração, mas sim a imprevisibilidade. Quanto à duração, penso que, com tempo, com uma sessão longa o bastante, poderíamos convencer nossos colegas da IPA de que quem diz cinquenta, diz 45, e que, no decorrer da discussão, regateando um pouco, flexibilizando-a, poderíamos chegar a um acordo com 15 minutos. É pouco? Ok, então vinte minutos. Sold! Quanto à impossibilidade de predizer, de generalizar o tempo da sessão, nada a fazer.
Se há um acordo de que a sessão seja de 15 minutos, paciente e analista estarão submetidos ao Outro implacável do tempo, à campainha que marca o fim do recreio, o encerramento da jornada de trabalho, o final do round. Se há uma medida exterior que decida em que ponto a partida termina, alguém tem de tomar a decisão. E quem toma a decisão em um mundo onde todos devemos ser iguais? Isso não cheira a abuso?
Há algum tempo, um paciente veio me ver. Buscava uma analista mulher e lacaniana. Deram-lhe meu nome. Logo me conta que fez uma longa análise freudiana em sua juventude, e que agora quer uma analista mulher e lacaniana. Esclarece-me que não aceitará que as sessões sejam cortadas, parece-lhe arbitrário, prepotente, considera-o um abuso, algo a que é especialmente sensível: seu avô abusara de sua mãe, e isso terminou mal etc.
Perguntei o que ele achava de trinta minutos. Ele concordou, e usei relógio. Durante muito tempo, as sessões tiveram exatos trinta minutos. Posteriormente, em alguns momentos decisivos, eu me permiti lhe dizer: “Sabe que este seria o momento de cortar? Mas ainda não está na hora”, acrescentava. Com o passar do tempo, arrisquei um: “E se cortássemos aqui?”. Por fim, a revelação da montagem de uma cena íntima de dominação, pela qual, aliás, pagava bastante, marcou o desaparecimento do relógio e o início de uma prática de sessões o mais curtas possível. Ele passou a dizer que faz uma análise lacaniana, mas ela foi lacaniana desde o início.
Quanto a mim, lembro-me perfeitamente da primeira interpretação que recebi de meu analista na última etapa de minha análise: “É você quem termina a sessão”. Disse isso com doçura, e não me deteve.
Considerar uma sessão terminada não combina muito com a suposta neutralidade do analista. Supõe tomar partido. E o analista não toma partido quando aceita alguém em análise, quando convida ao divã ou quando interpreta? A neutralidade do analista recai sobre seu eu, sobre suas fantasias e paixões engendradas por ela, sobre ele próprio como sujeito. O que o analista lacaniano neutraliza é a contratransferência. Não temos uma maneira que defina melhor em que consiste sua formação.
Há cinquenta anos, o pomo da discórdia do movimento psicanalítico foi menos o tamanho que a imprevisibilidade das sessões praticadas por Lacan. Sim, mas por que o fazia? E por que o fazemos? Vejamos, inicialmente, em que ele se autorizava.
Freud, mais uma vez, em “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise” (1912), em “Sobre o início do tratamento” (1913) e na carta a Ferenczi de 4 de janeiro de 1928, defendeu a elasticidade da técnica analítica contra outros que a tinham convertido em tabu, relacionando seu estilo a razões pessoais. Por exemplo, quando trata do uso do divã, diz ele: “Atenho-me ao plano de fazer com que o paciente se deite num divã, enquanto me sento atrás dele, fora de sua vista. [...] ele merece ser mantido por muitas razões. A primeira é um motivo pessoal, mas que outros podem compartilhar comigo. Não posso suportar ser encarado fixamente por outras pessoas durante oito horas (ou mais) por dia”.
Lacan foi mais longe: recorreu a tudo o que lhe foi possível para demonstrar que sua prática não obedecia a motivos pessoais; ela era solidária, por exemplo, à sua concepção de inconsciente em determinado momento, segundo a qual este era estruturado como uma linguagem e cujo sentido dependia da pontuação. Essa é a tese de “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise” (1953). Alguns anos depois, buscou na topologia a demonstração de que a prática analítica requeria cortar a cadeia associativa para criar o vazio por onde poderia emergir o objeto a. Veja-se, por exemplo, a série constituída pelos nono e décimo seminários, respectivamente sobre a identificação e a angústia. Mais tarde ainda, revisou sua própria concepção de inconsciente, ao propor que era apenas gozo do cifrado. Por conseguinte, a prática analítica deveria ir contra esse gozo, contrariando o inconsciente, isto é, ganhando dele tal como o chiste.
Não sei se vocês entendiam precisamente o que quer dizer “o discurso do analista” é o avesso do discurso do mestre” antes de Miller elucidá-lo em sua intervenção "A interpretação pelo avesso”. Pierre Naveau a evocou há pouco.
É possível observar em cada etapa do ensino de Lacan seu esforço renovado em estabelecer um laço entre sua prática da psicanálise e sua construção da teoria psicanalítica, assim como em explicitar os princípios que governam sua tática da interpretação, seu uso do tempo e sua estratégia com a transferência.
É verdade, mas o que o levou a reformular mais de uma vez os fundamentos de uma prática mutante? A guerra foi desencadeada provavelmente pela duração imprevisível das sessões, mas isso não passava da ponta de um iceberg.
Tróia ardeu porque uma deusa desairosa buscou vingar-se, colocando no banquete das bodas, para o qual não fora convidada, um pomo de ouro com a inscrição “Para a mais bela das deusas”. A disputa pelo primeiro lugar não tardou a começar. Foi necessário então chamar um mortal para servir de árbitro. Assim, Páris, que cuidava tranquilamente de seu rebanho, viu-se obrigado a ter de decidir qual deusa era a mais bela. Uma lhe ofereceu reinar sobre a Ásia e a Europa; outra lhe prometeu habilidade militar e fama; a terceira, Afrodite, prometeu-lhe Helena. Páris a escolheu, e o rapto de Helena desencadeou a guerra.
Freud retoma essa história em “O tema dos três escrínios” (1913), acrescentando-lhe um detalhe de que gosto muito, pois segue a versão de A bela Helena (1864). De Jacques Offenbach: “E a terceira, sim a terceira, / de pé, ao lados das outras, permaneceu muda. / A ela dei a maçã”.
É Páris quem fala. Enquanto lia o trecho para preparar esta intervenção, imaginava um diálogo entre Freud e Lacan. Através de Afrodite, Freud apresenta um amor emudecido, com sabor de morte. Lacan se inquieta: “a análise não consiste em encontrar em um caso o traço diferencial da teoria, e em crer que se pode explorá-la através dele porque sua filha está muda, pois trata-se de fazê-la falar e de ouvir, além disso, porque o fez”.
Assim, Lacan se apressa em se apoderar do silêncio do amor. Do fechamento do inconsciente, para fazê-lo falar. Voltemos aos arquivos. Quatorze de julho de 1953, carta de Jacques Lacan a Rudolph Loewenstein: “Ressuscitou-se uma antiga discussão [...] entabulada em torno de uma técnica que eu defendera publicamente, ou seja, o uso regular de sessões mais curtas em certas análises, em especial na análise didática, na qual a particular natureza das resistências me parecera justifica-lo”.
Dezenove de maio de 1963, informe Turquet, questão Lacan: “Não se pode predizer a duração das sessões. Lacan busca evitar a transferência negativa”. Resistência, repressão, defesa, foi por aí que os analistas da época experimentaram os primeiros obstáculos na direção do tratamento. A mesma causa: a experiência do real fechou o acesso a esse inconsciente que se mostrara tão pródigo com Freud [2]. Assim como o mesmo movimento de busca da chama inaugural da descoberta freudiana fez com que alguns levantassem o estandarte com a ilusão de conseguir os mesmos efeitos repetindo o mesmo cerimonial, e outros renovassem a experiência com o propósito de voltar a considerar o inconsciente pela via da surpresa.
Os favores da bela Helena foram para os últimos. Mas cinquenta anos se passaram, e o movimento psicanalítico em seu conjunto entrou em nova etapa de instituições públicas, estados estratagemas e regulamentações várias. Percorreremos cada um desses passos, pois cada época tem sua Ilíada ou, ao menos, sua Odisséia.
*
A prática de Lacan foi o pomo da discórdia do movimento psicanalítico. Ele empreendeu seu combate não contra a IPA, como se pensa, mas sim contra todo aquele que sufoca a descoberta freudiana no sentido comum. Em 11 de outubro de 1976, ele próprio escreveu: “Ganhei, sem dúvida, porque fiz escutar o que eu pensava sobre o inconsciente, princípio da prática”.
Em 2003, continuamos praticando as sessões curtas, o mais curtas possível, variáveis, breves, rápidas, porque continuam demonstrando sua eficácia para surpreender o inconsciente. É a vigência da “solução Lacan” para enfrentar o problema que sua geração teve de encarar.
Nosso problema, todavia, é outro. Eu o formulei provisoriamente sob a forma de uma pergunta: é óbvio que o inconsciente mantém a dianteira como princípio de nossa prática? Certamente sim em muitos casos, já que continuamos encontrando uma clínica que podemos chamar clássica. Isso, porém, não é o mais interessante. Corresponderia a algo como o “fim da história” da psicanálise, ponto em que já não se pode esperar nada de novo.
A realidade é outra. À medida que ampliamos o campo de aplicação de nossa prática, deparamo-nos com uma nova clínica que, para dizê-lo de modo prudente, leva-nos a interrogar o próprio inconsciente. Mas nossa maneira de conceber o inconsciente não o considera um ser em si mesmo, e sim uma suposição, produto da transferência. Sem ela, o inconsciente, puf!, evapora. E, uma vez evaporado, resta um sintoma... Como chamá-lo? Talvez sintoma puro, sem suposição de saber. Para dizer a verdade, não me ocorre outra maneira de entender isso que chamamos novos sintomas. Penso-os simplesmente como sintomas menos transferência. O que enfatiza – talvez não o tenhamos vislumbrado até agora – algo real no sintoma, independente dos artifícios da fala, cujo destino nem sempre é congruente com os vaivéns do inconsciente. Suspeito, embora devesse demonstrá-lo com uma casuística, ainda incipiente, que não se trata de um novo envelope formal, mas sim de uma profunda transformação do sintoma que não pede para falar, não pensa que falar faz bem e cuja dignidade consiste em travar a engrenagem que leva ao pior.
Direi em sua voz baixa, mas penso que hoje o destino da psicanálise depende de sua capacidade para adaptar-se, de sua docilidade para deixar-se guiar, de sua habilidade para reiventar-se e estar à altura dessa nova clínica que Freud teria inserido entre as contra-indicações ao tratamento analítico. Talvez seja assim, mas estamos atravessados pela recomendação que nos foi legada por Lacan: “Não recuar”.
No momento, à espera da acumulação de resultados, podemos fazer escutar o que pensamos das novas formas com que se apresenta o real, princípio do sintoma. Não é pouco, e isso pode ajudar alguns a não se esfalfarem remando o barco na areia.
Uma coisa, todavia, é certa: a temporalidade desses novos sintomas não é a mesma da novela familiar do neurótico, sempre disposto a convidar o analista a segui-lo em um novo capítulo pelos caminhos de Swann. Para esses sintomas de poucas palavras, é melhor cultivar o short story, o conto breve, cujo efeito é obtido graças à contratação do tempo produzida pela economia de palavras e à falta de detalhes sobre o personagem. Vou lhes contar um, que vem a calhar.
A habilidade de desenhar era uma das muitas virtudes de Chuang-Tzu. Certo dia, o rei lhe pede para desenhar um caranguejo, e Chuang-Tzu lhe responde que, para isso, precisaria de cinco anos e uma casa com doze serviçais. Passaram-se os cincos anos e o desenho ainda não estava começado. “Preciso de mais cinco anos”, disse Chuang-Tzu, e o rei os concedeu. Decorridos os dez anos, Chuang-Tzu pegou o pincel e, em um instante, com um só gesto, desenhou um caranguejo, o mais perfeito caranguejo que já tinha visto.
Penso tratar-se de uma versão chinesa do apólogo dos três prisioneiros de Lacan. Seu encanto reside no contraste entre o tempo da personagem para compreender, que se prolonga enigmaticamente, a rapidez inesperada do momento de concluir e a brevidade do relato oferecido ao leitor. Quando o passe é bem-sucedido, surte esse efeito no analisante; quando bem narrado, é produzido também na audiência. O cartel do passe, em contrapartida, quer saber o que fez Chuang-Tzu enquanto isso, e como chegou à sua conclusão.
Em sua versão ocidental, o apólogo dos três prisioneiros inclui, ao contrário, um empuxo à redução do tempo para compreender pois, embora o diretor da prisão, na formulação lógica do problema, diga aos prisioneiros que eles têm todo o tempo para considerar tanto seus companheiros quanto os discos que trazem nas costas, o problema repousa na suposição não lógica, e sim subjetiva de que eles querem sair da prisão e de que não é um bom negócio que o tempo para compreender seja tão longo quanto a duração da própria pena. A pressa para concluir é o pano de fundo que leva o lógico, no momento de formular o problema, a escolher a prisão e não um palácio com doze serviçais.
Mas o lógico ocidental é também um pouco ingênuo: ele supõe que o prisioneiro escolherá a liberdade. Além disso, é também um tanto metafísico: acredita que a liberdade acompanha a pergunta sobre o ser.
Se, em vez de lógico, fosse psicanalista, saberia que o neurótico, o neurótico clássico, pode escolher permanecer dez anos na prisão sem palácio nem serviçais, seja esperando a morte do diretor (versão obsessiva), seja denunciando a falha do problema (versão histérica).
Nesses casos clássicos da prática analítica, não é recomendável que o próprio analista traga a pressa para concluir? Ao menos Freud não se privou de fazê-lo. Por que não reconstruir sua lógica antes de condenar seu impasse?
E se no lugar do lógico estivesse um psicanalista disposto a se deixar ensinar por esses novos sintomas, não deveria ele saber que sua ocasião é fugaz e que é melhor ajudar o sujeito a calcular rápido, porque via de regra ele não tem muito tempo para compreender?
Por fim, não está escrito em nenhum lugar que são necessários dez anos para desenhar um caranguejo, e o pior que pode acontecer é verificarmos, ao despertar, que a psicanálise já não está mais por aí.
Referências:
[1] Brodsky, Graciela. Short story: os princípios do ato analítico. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria. 2004. Tradução: Vera Avellar Ribeiro. “Short Story”. Conferência realizada nas Jornadas da École de la Cause Freudienne. Paris, outubro de 2003.
[2] Miller fez desse obstáculo, a experiência do real, o título de um de seus cursos, recentemente publicado em espanhol.
*Graciela Brodsky é psicanalista. AME, Membro da EBP, EOL, NEL, NLS e da AMP.