Nu, de Zeca Baleiro

 As canções de Zeca Baleiro compõem uma eclética produção que é marcada pela diversidade de temas, pela pluralidade rítmica e pelo diálogo entre as canções e textos populares e eruditos que vão desde as toadas nativas do Maranhão à poesia erudita da literatura brasileira de Gregório de Matos. São diálogos intertextuais – literatura, música, Bíblia, lenda, folclore, filosofia... −, que lançam mão de recursos da ambiguidade metalinguística e que se apresentam com uma “face”, social ou lírica, que se enuncia por uma “voz”, político-ideológica, cultural ou filosófica.

A relação de Zeca Baleiro com a música começou em casa, na farmácia de seu pai, nas festas folclóricas no Maranhão e no palco de artistas itinerantes. Aprendeu a tocar violão na adolescência e, aos 18 anos, estreou no programa de rádio Contatos Imediatos, ao lado do cantor Nosly Jr., com o baião “Sem Pé nem Cabeça”. Logo depois, participou do Festival Viva 85, com o samba de breque “O Hipocondríaco”. Em 1986, realizou uma temporada em Belo Horizonte com o show Umaizum. Em 1991, apresentou Os Vampiros Não Comem Lasanha, primeiro show em São Paulo, onde começam os contatos com Chico César, e se tornam grandes parceiros e amigos musicais. Entre 1994 e 1996, realizou o projeto Outras Caras, no Centro Cultural São Paulo (CCSP). A partir daí, passou a atuar como produtor musical, lançou seu primeiro CD em 1997, Por Onde Andará Stephen Fry?, com participação de cantores de diferentes gêneros como Genival Lacerda e Wanderléa, e tornou-se conhecido na grande mídia com a canção “Flor da Pele”, interpretada por Gal Costa. A relação de sua canção com outras maneiras de expressão artística fica evidenciada na canção chamada “Bienal”, em que usa um estilo oriundo notadamente da região Nordeste do país para se reportar à arte moderna, numa ironia à arte e ao mercado de bens culturais no Brasil. Seguiu, entre pastiche e lirismo, pelos anos 2000, com composições mais lentas, e desenvolveu projetos especiais, como o disco póstumo de Sérgio Sampaio, Cruel (2005), e o de Odair José, Praça Tiradentes, bem como o CD Ode Descontínua para Flauta e Oboé, em que artistas como Maria Bethânia e Ângela Rô Rô gravam poemas de Hilda Hilst, além de revisitar clássicos da MPB como “Pagode Russo”, de Luiz Gonzaga e João Silva, e “Disritmia”, de Martinho da Vila.

Por que o nome Zeca Baleiro? O apelido vem dos tempos da faculdade, porque sempre trazia muitas balas em sua bolsa, para alegria de professores e colegas. Antes de dedicar-se exclusivamente à criação de músicas, ele chegou a abrir uma loja de balas, doces e tortas caseiras, mas a música o pegou de surpresa e transformou sua vida.

DERIVAS ANALÍTICAS traz nesta edição a música “Nu”, que faz parte do ​álbum O Disco do Ano, lançado em 2012:

Você vai dizer se gosta de mim
Assim como sou nesse teatro sem fim
Dublê de cantor
Cowboy de festim
Arauto da dor
Poeta ruim
Boêmio blasé
Num blazer de brim
Me sinto nu se você olha pra mim 

Me sinto nu, nu com a minha máscara
Nu com a minha máscara
Com minha máscara

Me sinto nu, nu com a minha máscara
Nu com a minha máscara
Com minha máscara 

Só falta dizer se gosta de mim
Do jeito que sou
Ator de pasquim
Um monge pornô
Anti-herói chinfrim
Branquinho nagô
Pateta Merlim
Na lama o lamê
Tanto faz enfim
Me sinto nu se você olha pra mim 

Me sinto nu, nu com a minha máscara
Nu com a minha máscara
Com minha máscara 

Fonte: https://youtu.be/HkhUI4DksQo

 Zeca Baleiro - Nu (CD O Disco do Ano)
COPYRIGHT: Ponto de Bala (Universal Publishing MGB)

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